sexta-feira, 29 de setembro de 2017

TESTE GENÉTICO PARA INTOLERÂNCIA À LACTOSE

 Intolerância à lactose é quando a pessoa não digere direito o açúcar do leite (lactose). Geralmente aparece na adolescência e na fase adulta, sendo rara em menores de 2 anos de idade.
O teste genético para avaliar intolerância à lactose tem como objetivo pesquisar mutações em alguns genes que levam a redução da produção da lactase que é a enzima responsável por quebrar a lactose e facilitar a digestão no intestino.
Se o exame vem com os genes que causam intolerância à lactose, isso significa que há uma predisposição genética para esse indivíduo se tornar intolerante, mas não necessariamente ele já esteja, pois a tendência é que isso ocorra aos poucos após os 5 anos de idade.
Portanto, para o diagnóstico correto deve ser feito o TESTE DE TOLERÂNCIA A LACTOSE que é um exame de sangue ou o teste de hidrogênio expirado que é um exame que se faz pela respiração, mas precisa de um preparo do paciente muito correto.
O teste genético é um complemento para quando o teste de tolerância à lactose vem positivo para intolerância e por isso, não deve ser solicitado para todas as crianças com suspeita de intolerância à lactose.
Na dúvida, procure um gastropediatra J 
Dra. Daniela Mendonça
Gastropediatra

CRM SC 20908/ RQE 12409


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)

Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)
Você provavelmente já deve ter ouvido alguém dizer que o filho, sobrinho, neto ou amiguinho tem alergia a proteína do leite de vaca (APLV), mas antes de falar sobre isso, é fundamental diferenciarmos APLV, de intolerância a lactose, pois é muito comum que as pessoas confundam.
Intolerância a lactose é quando a pessoa não digere direito o açúcar o leite, e acredite, não se fala em intolerância em crianças menores de 2 anos de idade, e quando raramente isso acontece, ela é transitória, ou seja, geralmente aparece após uma diarreia infecciosa e desaparece após 2 ou 4 semanas.!
Já a alergia, é uma reação do sistema imunológico a algo que ele considera estranho, no caso da APLV, a reação é contra as proteínas do leite de vaca.
O reconhecimento e o diagnóstico ainda são difíceis, uma vez que não há um teste único ou combinação de exames para definição, sendo o diagnóstico na maioria das vezes realizado pelos sintomas clínicos. Além disso, cada criança pode apresentar uma forma e intensidade diferente da APLV.

A APLV está aumentando?



Sim, houve um aumento na prevalência da APLV de 0,2 % para 2 a 6 % nos últimos 10 anos, conforme a população estudada e existem algumas teorias que tentam explicar o motivo do aumento das alergias alimentares nas crianças.
O principal fator de risco é a predisposição genética para alergia, ou seja, se a mãe ou pai apresentam alguma alergia (rinite, dermatite, asma ou qualquer outra), a criança já nasce com um risco de 50 a 75 % de também ser alérgica e pode se manifestar como alergia alimentar na fase inicial da vida.
O contato precoce com a proteína do leite de vaca é outro fator de risco importante, principalmente nas primeiras horas de vida. Portanto, o aleitamento materno exclusivo é um protetor para esta e outras alergias.
Vamos fazer uma pausa, talvez você tenha pensado “Meu filho foi amamentado e teve APLV do mesmo jeito”, bem, o aleitamento materno é um protetor, no entanto, vale lembrar que não descarta as chances de seu filho ter APLV, pois há vários outros fatores de risco, tais como:
·         Prematuridade;
·         Introdução de alimentos sólidos antes dos 4 meses de idade;
·         Introdução do leite de vaca integral antes de 1 ano de idade;
·         Infecções intestinais;
·         Alterações da flora intestinal;
·         Uso repetitivo de antibióticos;
·         Uso abusivo de antiácidos.
E quais são os sinais e sintomas das crianças que nos fazem pensar em APLV?
No bebê menor de 1 ano de idade, a principal manifestação é a colite alérgica caracterizada por diarreia com sangue e muco. Mas em geral os sintomas são variados e podem ser separados conforme o tipo de mecanismo imunológico, ou seja, alergia mediada por IgE, alergia não mediada por IgE, ou alergia mista.
Alergia NÃO mediada por IgE – principais sintomas:
·         Sangue e muco nas fezes;
·         Diarreia persistente;
·         Vômitos /regurgitações;
·         Refluxo gastroesofágico de difícil controle;
·         Baixo ganho de peso;
·         Distensão abdominal;
·         Cólicas abdominais intensas;
·         Irritabilidade extrema;
·         Assaduras recorrentes ou de difícil tratamento.
Alergia mediada dor IgE (reações imediatas) – principais sintomas:
·         Síndrome de alergia oral (fica vermelho ao redor da boca após contato com o leite);
·         Anafilaxia gastrointestinal (vômitos e diarreia logo após ingerir leite);
·         Urticária (manchas vermelhas na pele);
·         Angioedema (incha os olhos e a boca);
·         Rinite e conjuntivite alérgicas;
·         Choque anafilático.
Alergia mista (há envolvimento dos dois mecanismos)
·         Dermatite atópica (lesões vermelhas na pele com descamações);
·         Asma Brônquica;
·         Esofagite eosinofílica
E todo sangue nas fezes em bebês é sinal de APLV?
Não, existem outras causas. Por isso, bebês e crianças que apresentam sangue e muco nas fezes, devem ser avaliadas por um pediatra e por um gastropediatra.
As outras causas de sangramento intestinal são:
·         Fissura anal (que é um corte na pele do ânus);
·         Invaginação intestinal (quadro grave que necessita de cirurgia);
·         Reação à vacina do rotavírus.

Falando nisso, a vacina do rotavírus pode ser uma causadora de APLV?

NÃO há nenhuma associação entre o uso da vacina rotavírus e o desenvolvimento da APLV.
Os eventos adversos mais comuns das vacinas rotavírus são: irritabilidade, febre, vômitos e diarreia, o que pode ser também atribuído às vacinas que são aplicadas simultaneamente no calendário vacinal da criança. A vacina pode, raramente, causar sangue nas fezes.
Lactentes que apresentam quadro de APLV com doença diarreica moderada ou grave ou vômitos, devem ter a aplicação da vacina adiada até a recuperação geral.
A ampliação do conhecimento e uso de exames diagnósticos para APLV têm contribuído para maior número de casos suspeitos e diagnosticados. Além disso, a idade em que a vacina é realizada coincide com a idade de maior diagnóstico da alergia, podendo aí haver forte coincidência temporal de fatores envolvidos.
Portanto, as Sociedades Brasileiras de Alergia e Imunologia (ASBAI), Imunizações (SBIm) e de Pediatria (SBP – Departamentos de Imunizações e Alergia) reafirmam a eficácia e a segurança das vacinas rotavírus e recomendam o uso rotineiro no calendário vacinal da criança, frente à grande importância e impacto que a doença tem na saúde infantil.
E qual o tratamento da APLV?
O tratamento é NUTRICIONAL, a proteína do leite de vaca deve ser excluída da dieta da criança por um período que pode variar de 6 meses a 5 anos, mas alguns poucos casos por mais tempo.
No caso da APLV, não adianta usar produtos sem lactose, pois o problema não é a lactose e sim a proteína do leite.
Quando o bebê mama leite materno, a dieta de exclusão é feita na mãe e o leite materno sempre deve ser mantido. A dieta da mãe que amamenta o bebê APLV deve ser restrita da proteína do leite de vaca (leite, derivados e alimentos contendo leite), da proteína de outros animais (como cabra e búfala) e da proteína da soja (na maioria dos pacientes).
O leite de vaca não deve ser substituído por leite de cabra nem leite de búfala, pois apresentam a proteína semelhante e fazem reação cruzada em até 97 % dos pacientes APLV.
A soja pode ser indicada com cautela em alguns pacientes com APLV mediada por IgE após 6 meses de idade. Essa conduta é pouco usada, apesar de ser indicada no consenso de alergia alimentar.
Bebidas vegetais (os famosos leites de arroz,  aveia,  castanha, amêndoas e agora o de inhame) NÃO são recomendadas como substitutas das fórmulas especiais para crianças APLV. Elas são pobres em proteínas e não suprem as necessidades nutricionais de cálcio, zinco e vários outros elementos essenciais para essa fase de pleno crescimento da criança.
Atualmente são usados “leites especiais” para a substituição do leite de vaca, que são as fórmulas extensamente hidrolisadas ou à base de aminoácidos, sendo as únicas indicadas para uma dieta adequada em crianças com APLV.
Algumas crianças APLV precisam de controle dos traços de leite que são pequenas contaminações da proteína do leite em alimentos e utensílios que já entraram em contato com leite. Cada paciente deve ser avaliado individualmente, pois atualmente só tem indicação de controle de traços de leite para os pacientes que reagem aos mesmos.
APLV tem cura?
Curiosamente, a maioria das crianças melhora da APLV. Um estudo relata que 45-50% melhoram até 1 ano, 60-75% até 2 anos e 85-90% até 3  anos de idade.
Sabe-se que a maioria dos pacientes com APLV não mediados por IgE melhora até 1 ano de idade e praticamente 100 % estará curado até 3 anos de vida.

O meu recadinho final é que …

Alergia alimentar é uma condição relativamente nova para todos, médicos, familiares, pais e crianças e por isso, que as condutas mudam sempre e se atualizam conforme vão aparecendo novos estudos.
Os pais e a família das crianças com APLV precisam de apoio e informações claras, por isso, procurem um bom pediatra ou gastropediatra ou alergista pediátrico para acompanhar.  Seu filho precisa de uma consulta bem feita e de um profissional competente, atencioso e disponível, que explique sobre a alergia e esteja acessível para as dúvidas e intercorrências que poderão surgir.
E não se esqueça, diferente da intolerância a lactose, a criança que tem APLV não pode ter nenhum contato com a proteína do leite, pois um mínimo pedaço de alimento ou gota de leite, é suficiente para desencadear reações. Por isso, não ofereça nada a nenhuma criança, sem antes perguntar aos pais se pode.
Dra. Daniela Mendonça
Gastropediatra
CRM SC 20908/ RQE 12409
danielagastropediatra@outlook.com
Atendimento no Balneário Camboriú SC e Itajaí SC, endereços no meu site :
www.danielagastropediatra.com.br

Artigo original foi criado para o site Licença maternidade, acesse aqui: http://www.licencamaternidade.com/pediatria/alergia-a-proteina-do-leite-de-vaca-aplv/

Minha entrevista sobre APLV no programa Ver Mais


sábado, 2 de setembro de 2017

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) e ALERGIA ALIMENTAR / INTOLERÂNCIA ALIMENTAR, será que estão relacionados?

O posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria é que NÃO há dados científicos que suportem a indicação da dieta sem glúten e/ou sem caseína (leite de vaca) para o espectro autista. 
Dietas de restrição devem ser realizadas somente em caso de diagnóstico estabelecido de intolerância ou alergia alimentar.
Segue abaixo o Documento Científico da SBP. 
Dra. Daniela Mendonça 
Gastropediatra 
CRM SC 20908